sexta-feira, 19 de abril de 2024

4º domingo de Páscoa - Pastor existe para proteger as ovelhas dos lobos e dos mercenários!

Pastor não é aquele que exige de suas ovelhas obediência e veneração. Tampouco é quem lhes exige ortodoxia e submissão pela ameaça e a intimidação. Pastor é quem sente o cheiro dos lobos sanguinários da violência e da mentira que se aproximam do redil e os enfrenta para evitar que suas ovelhas sejam por eles estraçalhadas e dispersadas. 

Pastor é aquele que desmascara os lobos disfarçados de ovelhas piedosas e devotas, mas que vivem a esganar os filhotes frágeis e as ovelhas feridas. 

Pastor é aquele que arranca a máscara de outros supostos pastores, os mercenários da fé, da ortodoxia e dos bons costumes. Que brandem com veemência suas bíblias, vestem roupas litúrgicas finas, colocam cruzes de prata em seus roliços pescoços, mas se recusam a carregar as cruzes de suas ovelhas. 

PASTOR DE VERDADE é quem ‘conduz suas ovelhas para fora’ de templos e instituições que fedem a incenso, a politicagem e a hipocrisia, e na luta contra a fome, os abusos e a violência se dispõe a dar a sua vida para protegê-las. Ele sabe que não a está perdendo, mas ganhando uma nova existência! 

quinta-feira, 18 de abril de 2024

MP recorre de decisão que negou prisão a pecuarista que fez desmate químico no Pantanal

 O Ministério Público de Mato Grosso recorreu da decisão, proferida em 18 de março, que negou o pedido de prisão do pecuarista Claudecy Oliveira Lemes. Ele é investigado por gastar mais de R$ 25 milhões num desmatamento químico em áreas que somam 81 mil hectares – equivalente à cidade de Campinas (SP) – no Pantanal mato-grossense. De acordo com o MP, foi o maior dano ambiental já registrado no estado, destaca o g1.

O absurdo crime ambiental foi noticiado no domingo (14/4) pelo Fantástico, que sobrevoou as áreas destruídas. Lemes possuía 11 propriedades no Pantanal, e a investigação começou em 2022, quando houve uma denúncia de que uma propriedade rural em Barão de Melgaço (a 109 km de Cuiabá), estava utilizando agrotóxicos na região para realizar desmate químico, informa a Revista Cenarium. Segundo os investigadores, a intenção de Lemes era aniquilar a vegetação mais alta. Isso provocou imensas manchas cinzas na paisagem, formada de árvores que perderam todas as folhas – resultado de um processo chamado “desfolhamento químico”, obtido quando se faz uma pulverização criminosa ao lançar de avião toneladas de agrotóxicos sobre a mata preservada.

O crime, porém, não se restringiu à vegetação. “Quando ele joga diretamente do avião, além de matar essas árvores, influencia também diretamente na fauna, principalmente na água”, explicou Jean Carlos Ferreira, fiscal da Secretaria do Meio Ambiente de Mato Grosso que inspecionou a área. Para conseguir transformar a área em pastagem para gado, o pecuarista investiu tempo e muito dinheiro. Lemes fez a aplicação de agrotóxicos ao longo de três anos, entre 2020 e 2023, e as notas fiscais apreendidas pela investigação revelam que ele gastou R$ 25 milhões somente com a compra dos herbicidas.

Segundo a secretaria, o fazendeiro usou 25 agrotóxicos diferentes. Um deles tem a substância 2,4-D, que, segundo o professor Wanderlei Pignati, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), é a mesma presente na composição do chamado agente laranja, conhecido por seus efeitos ambientais devastadores e usado na Guerra do Vietnã pelos Estados Unidos. Desde 2019, Claudecy Lemes tem 15 autuações por danos ambientais no Pantanal, mas segue solto, cumprindo apenas medidas cautelares. Ele já foi alvo de outras decisões judiciais que indisponibilizaram suas 11 fazendas, apreenderam os animais dessas propriedades e embargaram as áreas afetadas. A Justiça também ordenou que ele suspendesse as atividades econômicas e o proibiu de sair do país.

O pecuarista também recebeu multas da secretaria ambiental mato-grossense que somam R$ 5,2 bilhões. Mas, é preciso repetir, continua solto. (IHU)

Crise sistêmica - Erosão do Ethos e asfixia da Espiritualidade - Por Leonardo Boff

.... Entre outras causas, considero duas fundamentais: a erosão da ética e a asfixia da espiritualidade.

Recuperemos o sentido clássico de Ethos dos gregos, pois nos iluminam ainda hoje. Ethos escrito em maiúsculo significa a casa humana. Vale dizer, separamos uma parte da natureza, a trabalhamos de forma a ser o espaço de viver bem. A outra forma é o ethos em minúsculo, que são as formas como organizamos a casa para que nos sintamos bem nela e possamos dar hospitalidade a quem nos visitar: enfeitar a sala, colocar corretamente as mesas, cuidar da cozinha, alimentar o fogo sempre aceso, manter a dispensa abastecida e os quartos decentemente arrumados. São as virtudes éticas que dão concreção ao Ethos. Mas não só, pertence ao Ethos zelar pelo entorno da casa, do jardim, de estátuas de divindades. Só assim o Ethos (viver bem) ganha forma concreta (ethos).

Hoje o Ethos é a Casa Comum, o planeta Terra. Por séculos alimentou a humanidade. Mas, com o advento da ciência e da técnica, temos explorado de forma ilimitada e irresponsável seus bens e serviços de forma que, hoje, ultrapassamos sua capacidade de suporte (The Earth Overshoot), a assim chamada Sobrecarga da Terra. Ela é finita e não suporta o projeto da modernidade de um crescimento infinito. O Ethos (viver bem na casa) e o ethos, as formas de organizá-la desestruturou tudo o que é importante para viver bem: poluímos as águas, sobrecarregamos os alimentos com agrotóxicos, envenenamos os solos, contaminamos dos ares a ponto de afetar o sistema da vida natural e da vida humana. Assistimos a erosão geral do Ethos, do ethos e da ética. A Casa Comum deixa de ser comum, e é apropriada por elites que detêm terras, poder, dinheiro e a condução da política do mundo. Elas se transformaram no Satã da Terra.

Tão grave quanto a erosão do Ethos, do ethos e da ética em geral é a asfixia da espiritualidade humana. Deixemos claro: espiritualidade não é sinônimo de religiosidade, embora a religiosidade possa potenciar a espiritualidade. A espiritualidade nasce de outra fonte: do profundo do ser humano. A espiritualidade é parte essencial do ser humano, como a corporalidade, a psiqué, a inteligência, a vontade e a afetividade. Neurolinguistas, os novos biólogos e eminentes cosmólogos como Brian Swimme, Bohm e outros reconhecem que a espiritualidade é da essência humana. Somos naturalmente seres espirituais, mesmo não sendo explicitamente religiosos. Essa porção espiritual em nós se revela pela capacidade de solidariedade, de cooperação, de compaixão, de comunhão e de uma total abertura ao outro, à natureza, ao universo, numa palavra ao Infinito. A espiritualidade faz o ser humano intuir que, por detrás de todas as coisas, há uma Energia poderosa e amorosa que tudo sustenta e a mantém aberta a novas formas no processo da evolução. Alguns neurólogos identificaram um fenômeno excepcional. Sempre que se aborda existencialmente o Sagrado, a experiência de pertença a um Todo maior, verifica-se numa parte do cérebro forte aceleração dos neurônios. Eles, não os teólogos, o chamaram de “ponto Deus no cérebro”. Como temos órgãos exteriores pelos quais captamos a realidade circundante, temos um órgão interior que é nossa vantagem evolutiva, de perceber Aquele Ser que faz ser todos os seres, aquela Energia misteriosa que penetra todos os seres e os vivifica.

Essa dimensão espiritual de nossa natureza foi sufocada por nossa cultura que venera mais o dinheiro que a natureza, o consumo individual que a repartição, que é mais competitiva que cooperativa, prefere o uso da violência do que o diálogo para resolver conflitos e criou a guerra nuclear e biológica como dissuasão, ameaça e eventual utilização, o que significaria o fim do sistema-vida e do sistema-humano. A violência e as guerras implicam a asfixia da espiritualidade, intrínseca à nossa essência. Atualmente a eclipse da ética e a negação da espiritualidade humana poderão levar-nos a situações dramáticas, não excluindo tragicamente a extinção da espécie homo depois de alguns milhões de anos, amados, nutridos pela Magna Mater que não soubemos retribuir-lhe cuidado, reverência e amor.  Nem por isso nos desesperamos. O universo guarda surpresas e o ser humano é um projeto infinito, capaz de criar soluções para erros que ele mesmo cometeu.

domingo, 14 de abril de 2024

Lula entre a fé de mais ou fé de menos, por Luís Nassif

 O grande problema é o produto Lula. O que o governo Lula oferece? Qual a cara do Lula 3? Está certo que Lula é acossado pelo Congresso, pelo mercado, pela mídia e pelos evangélicos. Mas há um universo de políticas que podem ser deflagradas ao largo desse arcabouço institucional.

Tome-se o caso do projeto da Neoindustrialização. Está solto. É um conjunto de “missões” relevantes sem nenhum grupo de trabalho articulando. Programas com tal abrangência envolvem várias instituições públicas e privadas, parte relevante sem ligação direta com o Ministério responsável. Assim, qualquer óbice fora do Ministério paralisa o programa. Foi o que relatamos do programa da cadeia produtiva dos medicamentos – com a meta ambiciosa de produção interna de 70% do que é consumido -, mas esbarrando na falta de condições da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de liberar as autorizações, por desfalque de pessoal – não há concursos desde 2013. Como é que fica? Não adianta reclamar para a Anvisa, pois ela não controla o orçamento. Não adianta reclamar para o Planejamento ou a Fazenda, porque são alvos de demandas de todas as partes e não cabe a eles definir as prioridades. Nem adianta reclamar ao bispo Macedo. Se se trata de um programa estratégico, a decisão teria que ser do presidente da República. Mas Lula está completamente ausente da elaboração do programa, como está ausente de outras políticas públicas relevantes.

Tenho insistido aqui que a política agregadora, capaz de juntar setores dos mais diversos, é o da defesa intransigente da produção. A produção envolve empresários e trabalhadores do setor industrial, comercial, agrícola, de transportes, das Associações Comerciais e das cooperativas, do Movimento dos Sem Terra ao agronegócio. A Neoindustrialização não contempla a produção convencional. Hoje em dia, os heróis nacionais são os traders de mercado, as startups. E as políticas de desenvolvimento seguem biblicamente os ensinamentos de Mariana Mazzucato, que diz que a inovação só pode ocorrer em grandes grupos e startups amparados por políticas públicas e pelo mercado.

Não há uma política sequer para a indústria convencional. Nos longínquos anos 90, a academia mostrava que ganhos incrementais de pequenas empresas podem contribuir muito mais para a produtividade nacional devido à quantidade de PMEs e de pessoas que empregam. Há muito mais que isso. O Brasil tem um grande ativo, de organizações públicas e privadas de alcance nacional – das federações empresariais e sindicais às empresas públicas, ao cooperativismo, agricultura familiar. Há condições fantásticas de, com esses atores, montar revoluções econômicas.

Nos anos 90 descobriu-se os Arranjos Produtivos Locais – empresas de uma mesma região se juntando para criar marcas próprias e atuar em parceria com prefeituras e federações empresariais. Hoje em dia, com a Internet disseminada, há uma ampla condições da criação de Arranjos Produtivos Digitais. Ou seja, um conjunto de empresas de um mesmo setor, organizadas em torno de plataformas, sendo certificadas pelo Sebrae, pelo Senai, pelo Senac. O primeiro passo é organizar uma plataforma de produção – podendo produzir para terceiros. O segundo passo é envolver um banco como o Banco do Brasil, para ajudar na constituição de empresas e marcas próprias. O comércio caminha inevitavelmente para as grandes plataformas. Os programas de digitalização de pequenas empresas são um passo intermediário. O passo final é a formação de consórcios, que possam receber moldes dos produtos a serem produzidos. Podem criar marcas, negociar em conjunto.

O país possui todos os ingredientes para uma política desse nível. E se a liderança fosse de Lula, ele teria, enfim, a bandeira agregadora. Hoje em dia, esse público só vê o Estado quando aparece o fiscal da Receita. São agentes passivos (e vítimas) de políticas econômicas montadas na Faria Lima. O presidente teria todas as condições de devolver a auto-estima a esse personagem, que hoje em dia é fundamentalmente bolsonarista e evangélico. E poderia incluir os pequenos nas políticas públicas.

Bolsonaro conseguiu mobilizar milhões de seguidores dizendo que poderiam salvar o Brasil rezando na porta de quartel. Lula teria condições muito mais concretas – com fé de menos -, mostrando que o produtor, independentemente do tamanho, da religião, da preferência política, é o salvador do país, desde o bar que emprega 4 funcionários às grandes siderúrgicas, desde o agronegócios ao Movimentos dos Sem Terra. Um dia, Lula acordará para essa possibilidade. Espera-se apenas que não seja em 2027.


sábado, 13 de abril de 2024

3º domingo de Páscoa - FAÇA ACONTECER A PAZ , O PÃO PARTILHADO E O PERDÃO E O RESSUSCITADO DEIXARÁ DE SER UM FANTASMA!

Como acreditar que Jesus ressuscitou no nosso cotidiano real se o 'pão', em lugar de ser partido e partilhado com todos, continua sendo sonegado e apropriado? Como crer que ele é o vivente e vencedor da morte, se a cada dia vemos crianças sendo massacradas, mulheres violentadas, 'humanos' declarando guerra a outros supostamente humanos? Como acreditar que as igrejas são testemunhas do Ressuscitado se vivem em função de si mesmas, sem sair de seus refrigerados templos e mostram sempre mais interesse patológico com o dízimo e a exclusão de pagamento de impostos à Fazenda? É evidente que cabem dúvidas e assombros como aconteceu com os seguidores de Jesus após a Sua morte. O Ressuscitado é identificado como o permanentemente presente de forma progressiva na vida das comunidades, a depender da crescente capacidade de perpetuar no concreto os gestos significativos do Mestre quando estava entre elas: construir paz real, partilhar pão e afeto, promover conversão radical e perdoar para restaurar corpos abatidos e almas rompidas. Ser testemunhas coerentes disso afasta todo perigo de mistificação e mitificação de um 'fantasmagórico ressuscitado'! 

domingo, 7 de abril de 2024

Estado terrorista: os fantasmas do hospital dos horrores em Gaza. Artigo de Angelo Stefanini

 É desoladora a angústia causada pelas imagens das ruínas enegrecidas do hospital Al-Shifa, na Cidade de Gaza. Aquele que foi o maior complexo hospitalar de toda a Palestina ocupada, depois de duas semanas de cerco israelense é uma pilha de escombros fumegantes. Equipado com 800 leitos, neles se realizavam cirurgias de transplante renal, cirurgias a coração aberto, cateterismo cardíaco e neurocirurgia avançada, bem como cirurgia geral, medicina interna e maternidade. Há muito tempo, o Al Shifa era algo mais: para os palestinos de Gaza a “casa da cura”, para Israel – embora desprovido de provas convincentes – o principal centro de comando do Hamas.

As forças israelenses já haviam feito irrupção no Shifa em novembro, causando graves danos e obrigando pacientes e pessoal médico a sair, deixando atrás de si setores devastados e recém-nascidos sem incubadoras. A segunda durou duas semanas: no último dia a equipe médica relatava que 107 pacientes, muitos deles em terapia intensiva, e 60 agentes de saúde haviam sido encarcerados num antigo prédio hospitalar sem equipamentos. A situação era descrita como "horrível e desumana", sem ventilação, condições precárias de limpeza, medicamentos quase ausentes com feridas sépticas purulentas. Os médicos, em vez das luvas agora esgotadas, usavam sacos plásticos. Os acompanhantes de pacientes foram executados, presos ou evacuados pelos militares, os pacientes e os funcionários foram deixados sem comida e água durante dias.

A CNN relata o depoimento de Khader Al Za'anoun, jornalista da Wafa, a agência de notícias palestina, segundo o qual o hospital Al-Shifa após a saída das forças israelenses “parece um filme de terror”. “As escavadeiras esmagaram os corpos das pessoas por toda parte e no pátio do hospital – disse ele. Muitas famílias procuram seus entes queridos e não conseguem encontrá-los. Encontramos famílias inteiras mortas e seus corpos em decomposição nas casas ao redor do hospital. Os sobreviventes estão desnutridos. As pessoas ainda vivas lá dentro sofrem de fome com uma garrafa de água por dia para dividir entre seis pessoas”. “Olho em volta e não consigo acreditar no que vejo”, disse ele.

De acordo com o Euro-Med Human Rights Monitor, uma organização independente com sede em Genebra, “o exército israelense atacou os palestinos sem distinção de estado civil, posição profissional, sexo, idade ou condições de saúde”. Entre os mortos foram encontrados crivados de balas a poucos passos do hospital, os corpos de dois dos médicos palestinos mais respeitados de Gaza, mãe e filho.

Calcular as vítimas é difícil. As forças israelenses afirmam ter matado 200 pessoas e preso 900. A proteção civil de Gaza fala em cerca de 300 pessoas mortas. O exército afirma que não causou danos a civis e pessoal médico. As organizações médicas e as testemunhas oculares rejeitam veementemente essa afirmação, apoiadas pelas mortes de Ahmad e Yusra al-Maqadmeh. Segundo a OMS, pelo menos 21 pacientes morreram durante o cerco. Os sobreviventes relataram ao Middle East Eye que dezenas de civis foram mortos. A Euro-Med está em condições de confirmar que centenas de cadáveres, incluindo alguns queimados e outros com cabeças e membros decepados, foram descobertos tanto no hospital como nas redondezas. Relatórios preliminares sugerem que mais de 1.500 palestinos tenham sido mortos, feridos ou estão desaparecidos, sendo metade das vítimas mulheres e crianças.

Pelo menos 22 pacientes morreram nos seus leitos hospitalares porque foram intencionalmente privados de acesso a alimentos e cuidados médicos. O exército israelense também impediu conscientemente que equipes de socorro e representantes das organizações internacionais entrassem no Al-Shifa para realizar missões humanitárias ou evacuações. O brutal ataque ao complexo médico de Al-Shifa é o aspecto mais visível do plano sistemático de Israel de destruir o setor da saúde da Faixa de Gaza, negando à população palestina qualquer oportunidade de cuidados médicos e, em última análise, de sobrevivência.

Comentários do blogueiro - Diante dos relatos de abusos e assassinatos intencionais do exército de Israel contra a população palestina em Gaza cuja comprovação é inegável, soa patético e cínico sofismar se o que ocorre é genocídio ou crime de guerra. Só conferir quantos soldados do Hamas foram mortos e quantas crianças e mulheres foram assassinadas!!!! A guerra não se dá entre dois ou mais 'exércitos'??? Será que as 12.300 crianças palestinas assassinadas desde o começo dos conflitos estavam a guerrear contra o poderoso exército israelita?  Onde estão os corpos dos combatentes do Hamas? Porque há somente corpos de crianças e mulheres Palestinas? São meros efeitos colaterais de uma guerra? VERGONHA! 

O Evangelho segundo o patriarca ortodoxo 'putiano' Kirill

Mas que tipo de Evangelho leu, estudou e amou Vladimir Mikhailovich Gundjaev, o Patriarca Ortodoxo de Moscou e de Toda a Rússia com o nome de Kirill? “De um ponto de vista espiritual e moral", disse anteontem, falando sobre a invasão da Ucrânia, "a operação militar especial é uma guerra santa, na qual a Rússia e o seu povo, defendendo o único espaço espiritual da Santa Rus', cumprem a missão de ‘Aquele que detém’ (ou Katéchon), protegendo o mundo do ataque do globalismo e da vitória do Ocidente que caiu no satanismo”.

Palavras em profundo contraste com aquelas usadas ​​nos últimos anos pelo Papa Francisco:

É necessário repudiar a guerra, lugar de morte onde pais e mães enterram seus filhos, onde os homens matam os seus irmãos sem nem sequer tê-los visto, onde os poderosos decidem e os pobres morrem. A guerra não devasta apenas o presente, mas também o futuro de uma sociedade. Eu li que desde o início do ataque à Ucrânia, uma em cada duas crianças foi deslocada do país. Isso significa destruir o futuro, causar traumas dramáticos nos menores e mais inocentes entre nós. Aqui está a bestialidade da guerra, ato bárbaro e sacrílego! A guerra não pode ser algo inevitável: não devemos habituar-nos à guerra! Em vez disso, temos de converter a indignação de hoje no empenho de amanhã. Porque, se sairmos dessa situação como antes, seremos todos culpados de alguma forma. Diante do perigo de se autodestruir, a humanidade precisa compreender que chegou a hora de abolir a guerra, de apagá-la da história do homem, antes que seja ela a apagar o homem da história”.

E mais: “As religiões não podem ser usadas para a guerra. Somente a paz é santa e ninguém usa o nome de Deus para abençoar o terror e a violência”. E mais ainda: “Em nome de nenhum Deus pode uma guerra ser declarada ‘santa’”.

Evidentemente a diferença entre os dois homens à frente das duas igrejas cristãs não está apenas na escolha do relógio, que no caso de Francisco é minimalista e no de Kirill é um suntuoso Breguet de 30 mil dólares imortalizado numa foto oficial e depois apagado (desajeitadamente) com o Photoshop. É claro que a passagem evangélica “ama o teu próximo como a ti mesmo” é mais complicada de retocar...

A reportagem é de Gian Antonio Stella, publicada por Corriere della Sera, 03-04-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.